





No centro de uma tempestade de críticas desde a estreia do remake de "Vale Tudo", Manuela Dias revelou um segredo inusitado: mantém um perfil falso no X (antigo Twitter) para acompanhar, de forma anônima, as reações do público à novela que assina. A confissão veio durante sua participação no Rio2C, um dos maiores eventos de criatividade da América Latina, realizado no Rio de Janeiro. 5m4y19
Em meio a um ao lado dos também autores Rosane Svartman (Dona de Mim) e George Moura (Guerreiros do Sol), a autora expôs a intensidade emocional que vive nos bastidores da produção e sua relação conturbada com o retorno do público.
"Fico alucinada de ódio. Aí tenho uma conta fake no Twitter... Totalmente maluca. Isso porque não tenho esse distanciamento, nem maturidade... Mas gosto de ouvir, o que é possível, porque a forma de engajar está complicada. É muito violenta, louca, catártica, a galera está pirando geral", revelou Manuela, sem disfarçar o desconforto com a enxurrada de críticas que recebe diariamente. Eita!
O remake, que ocupa a cobiçada faixa das 21h na TV Globo, é visto por cerca de 60 milhões de pessoas semanalmente, mas, apesar do alcance, não tem conseguido driblar o descontentamento do público – especialmente nas redes sociais.
A novela, tida como um dos grandes clássicos da teledramaturgia nacional, foi originalmente escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères em 1988 e se tornou referência em crítica social sofisticada, com personagens ambíguos e diálogos de impacto sutil. No entanto, a nova versão tem sido acusada de transformar esse legado em panfleto didático.
O episódio exibido em 6 de maio é um exemplo disso: no esperado embate entre Solange (Alice Wegmann) e Odete Roitman (Debora Bloch), o que deveria ser um momento potente de confronto ideológico se tornou alvo de deboche. A fala "eu sou a resistência", lançada por Solange, e o diagnóstico de "narcisismo" feito por Afonso (Humberto Carrão) à própria mãe foram duramente criticados por parecerem deslocados, artificiais e excessivamente expositivos.
Ao comentar sobre essas e outras reações, a autora reconheceu o peso das palavras que lê: "Quando entro no meu fake, no Twitter, leio coisas horrorosas que não sou capaz de falar, de repetir, de xingamento, é muito desafiador ouvir. A forma é tão pesada, que falo: 'Caramba, que dificuldade minha de destilar isso e realmente ouvir'. E tem gente maravilhosa, engraçada, incrível e que fala coisas ótimas", ponderou.
Manuela também comparou sua postura com a de Rosane Svartman, colega de emissora, a quem considera mais preparada emocionalmente para lidar com a crítica digital. "Essa coisa que o hater é o novo lover, tem essa confusão agora, essa coisa do engajar...", refletiu, apontando para a distorção atual entre visibilidade e aprovação nas redes.
Apesar da turbulência, a roteirista demonstrou consciência da responsabilidade que carrega ao uma adaptação tão icônica. "É um produto caro, é um negócio que tem que funcionar!", enfatizou, ao reconhecer a pressão enfrentada. E itiu ter aceitado o convite da Globo de maneira impulsiva: "Eu aceitei em meio segundo. Não pensei nem por um minuto: 'Meu Deus, será que isso não é uma roubada?'. Fiquei felicíssima na hora, gente, totalmente coitada".
A novela tem tropeçado ao tentar traduzir temas atuais com a mesma elegância que a versão original aplicava ao retratar os dilemas sociais dos anos 1980. O resultado, por enquanto, tem gerado mais memes do que comoção. “Que bom que eu aceitei!”, disse ela ao fim do , ainda com esperança. “Vai ser tipo fazer um PhD, porque eu vou ter que estudar essa novela, vai ser como fazer uma espécie de mestrado”. Mas até aqui, a defesa de tese tem sido dura. E o júri, impiedoso.