





No capítulo de terça-feira (6) do remake de "Vale Tudo", Afonso (Humberto Carrão) soltou o verbo e chamou sua mãe, a impiedosa Odete Roitman (Débora Bloch), de narcisista. A cena intensa veio após mais um embate afiado da empresária com Solange (Alice Wegmann), deixando claro o controle e a toxicidade que ela impõe a quem está ao seu redor, inclusive aos próprios filhos. 3v4t2t
Quem acompanha a novela sabe bem: Odete faz da filha Heleninha (Paolla Oliveira), por exemplo, seu bode expiatório e não mede esforços para humilhar, sabotar ou até mesmo culpar a filha por um assassinato. Sim, esse é o nível de perversidade. Mas… e quando a vida imita a arte?
Se você se identifica com essa dinâmica ou sente que sua relação com sua mãe tem traços parecidos com os de Odete Roitman, não está sozinho. A psicóloga clínica Vanessa Gebrim, especialista pela PUC-SP, explica como identificar e enfrentar o narcisismo materno, uma realidade dura, mas mais comum do que parece.
"As mães narcisistas se tornam incapazes de estabelecer vínculos e de criarem conexões nas relações. Se elas sentirem que não tiveram atenção e e, tratarão seus filhos sem a menor empatia, contradizendo e rebaixando-os para se sentirem melhores", explica a especialista.
Segundo Vanessa, há alguns comportamentos que acendem o alerta vermelho: "Não pedem desculpa, causam intrigas, não cumprem o que prometem, normalizam o sofrimento alheio, agem de forma egoísta e deslumbrada, sem respeitar os limites individuais dos filhos". Odete, mais uma vez, acertou todos os itens da lista.
Conviver com uma mãe narcisista pode gerar marcas profundas e duradouras. "Os filhos de mães narcisistas não são sujeitos com muita autonomia. Crescem num contexto familiar de agressividade, desamparo, manipulação e culpa pelas emoções dessas mães que se sentem em posse permanente desses filhos", explica Vanessa.
A psicóloga também destaca que essas mães não costumam reconhecer os limites dos filhos e projetam suas frustrações neles: "Muitas vezes, elas querem e até exigem que os filhos sejam e ajam exatamente como ela. São centralizadoras, manipuladoras, e gostam de projetar suas expectativas e frustrações nesses filhos".
E o impacto não para por aí! "Os filhos de uma mãe narcisista podem se afetar no sentido de se tornarem adultos com baixa autoestima, que deixam suas necessidades de lado para evitarem conflitos com essas mães", continua ela.
A relação é ainda mais desafiadora para as filhas, especialmente quando entram na fase adulta. Pobre Heleninha! "Conforme vão crescendo e se tornando mulheres interessantes e atraentes são apontadas como maiores ameaças para essas mães, que vivem se comparando a elas e criando rivalidades", completa.
Segundo Vanessa, o mais importante é buscar conhecimento e apoio: "Uma das principais necessidades na hora de entender como agir com uma mãe que age de forma narcisista é buscar informações sobre o assunto, como leituras, grupos de apoio, pesquisas sobre o tema etc. O importante é ter o à informação e perceber que não está só".
Em alguns casos, o afastamento pode ser a melhor escolha para preservar a própria saúde mental. "Os filhos percebem qual é a real necessidade: se convivendo menos para manter uma relação mais saudável ou se afastando, cortando o contato, para encontrar independência e autonomia", pontua.
"Os filhos precisam começar a entender a necessidade de se desresponsabilizar da necessidade de mudar a mãe. Não é culpa sua que ela seja assim, e não está sob o seu controle que ela mude", reforça. Por fim, buscar ajuda profissional pode ser libertador. "Uma das principais dicas é buscar terapia para cuidar dos efeitos da codependência que as relações abusivas podem gerar [...] em busca de se permitir desenvolver relações mais saudáveis com os outros e consigo mesmo", finaliza.
Odete Roitman pode ser uma vilã da ficção, mas sua personalidade encontra eco na vida real. Identificar, entender e se proteger desse tipo de relação é fundamental. E como bem disse Afonso, não é fraqueza reconhecer um trauma antigo, é força. Você também já teve que lidar com uma “Odete” na sua vida?