





Ivete Sangalo é mais uma dos 2 milhões de celíacos no Brasil, segundo dados da Federação Nacional das Associações de Celíacos (Fenacelbra). A cantora, que completa 53 anos nesta terça-feira (27), recebeu o diagnóstico em 2014 e cortou alimentos com glúten de sua dieta. 5v5d68
Autoimune, a doença celíaca provoca um processo inflamatório causado pelo glúten, proteína presente em grãos como trigo, cevada, centeio e triticale. A inflamação ocorre na parede interna do intestino delgado, pode causar atrofia das vilosidades intestinais e diminui a absorção dos nutrientes.
Dados da Fenacelbra também indicam que muita gente possui a doença, mas não foi diagnosticada. Os sinais, muitas vezes, são silenciosos. Mas, afinal, o que é a doença celíaca? Quais são os principais sintomas e o que um celíaco não pode comer? O Purepeople convocou a Dra. Bárbara Mariano, médica gastroenterologista e diretora da Clínica Integrative Campinas, que, a seguir, tira as principais dúvidas sobre o assunto.
Existem fatores que indiquem predisposição ao desenvolvimento da doença celíaca?
Sim. A doença celíaca tem um componente genético importante. Pessoas com histórico familiar da condição têm maior risco. Além disso, a presença de determinados genes, como o HLA-DQ2 e HLA-DQ8, está fortemente associada à predisposição. No entanto, nem todo portador desses genes desenvolve a doença. Fatores ambientais, como infecções gastrointestinais e introdução precoce ou tardia do glúten na alimentação infantil, também podem contribuir.
O diagnóstico precoce é essencial para um melhor tratamento da doença celíaca. Quais sintomas merecem mais atenção?
Sem dúvida. Os sintomas são variados e, por isso, muitas vezes am despercebidos. Os mais comuns incluem: diarreia crônica, inchaço abdominal, gases em excesso, perda de peso, fadiga e anemia que não melhora com suplemento de ferro. Em crianças, o atraso no crescimento e irritabilidade também são sinais de alerta. Além disso, há sintomas menos típicos, como osteoporose precoce, infertilidade e alterações neurológicas. Diante de qualquer suspeita, é importante procurar um médico.
Muita gente confunde alergia ao glúten ou ao trigo com doença celíaca. Qual a diferença?
A confusão é comum, mas são condições diferentes. Doença celíaca é uma doença autoimune: o organismo ataca o próprio intestino delgado quando a pessoa consome glúten. Alergia ao trigo é uma reação alérgica imediata ao trigo, podendo causar urticária, dificuldade para respirar, entre outros sintomas. Sensibilidade ao glúten não celíaca é um diagnóstico de exclusão. A pessoa tem sintomas relacionados ao consumo de glúten, mas sem as alterações típicas da doença celíaca ou da alergia. O tratamento é diferente em cada caso, por isso o diagnóstico correto é essencial.
Por que a doença é mais comum em crianças?
Ela não é exclusiva da infância, mas costuma ser diagnosticada mais cedo porque os sintomas geralmente aparecem com a introdução do glúten na dieta. Crianças com predisposição genética podem manifestar a doença logo nos primeiros anos de vida. No entanto, muitos casos só são identificados na fase adulta, inclusive após os 40 ou 50 anos.
No caso de Ivete Sangalo e de outras pessoas que demandam alto desempenho em seus ofícios, como a doença celíaca pode afetar a performance?
Se não tratada adequadamente, a doença celíaca pode levar à deficiência de nutrientes, fadiga crônica, dores musculares, e até alterações de humor e concentração — tudo isso afeta o desempenho físico e mental. Uma vez feito o diagnóstico e iniciado o tratamento com dieta isenta de glúten, a grande maioria dos pacientes volta a ter qualidade de vida e pode exercer suas atividades plenamente.
Existem muitas dúvidas sobre as consequências da doença celíaca para a idade reprodutiva. Ela pode mesmo causar menopausa precoce?
Sim, pode acontecer. A inflamação intestinal causada pela doença celíaca interfere na absorção de nutrientes essenciais para a saúde hormonal e reprodutiva. Em mulheres, isso pode levar à menstruação irregular, infertilidade e, em alguns casos, menopausa precoce. Por isso, mulheres com dificuldades para engravidar ou alterações hormonais sem causa aparente devem investigar a possibilidade da doença celíaca.
A dieta ainda é o principal tratamento para a doença celíaca. Quais alimentos devem ser completamente evitados?
Sim, o tratamento consiste em exclusão total e permanente do glúten. Isso inclui alimentos que contenham trigo, centeio, cevada e malte, geralmente usado em cervejas. E também todos os produtos derivados ou que possam ter sido contaminados com glúten durante o preparo. É importante ler rótulos com atenção, pois o glúten pode estar presente em molhos, caldos, embutidos e até em medicamentos.
Existem medicações ou tratamentos que permitam que um portador de doença celíaca possa comer tudo livremente? Ou sempre haverá restrições?
Atualmente, não existe cura para a doença celíaca. A única forma eficaz de tratamento é a dieta sem glúten para o resto da vida. Existem estudos em andamento buscando medicamentos que poderiam reduzir a sensibilidade ao glúten ou evitar os danos intestinais, mas nenhum deles ainda está disponível ou aprovado para uso clínico. Portanto, por enquanto, as restrições continuam sendo necessárias.
Como uma pessoa com doença celíaca pode continuar frequentando locais públicos, como restaurantes, sem preocupações?
É possível, mas exige alguns cuidados. Comunique ao estabelecimento que você tem doença celíaca e precisa de comida sem glúten e sem contaminação cruzada. Prefira locais que tenham opções certificadas ou com preparo separado e evite buffets ou ambientes onde utensílios são compartilhados com alimentos com glúten. Aplicativos e grupos de apoio também ajudam a encontrar locais seguros. Com informação e vigilância, a vida social pode ser mantida normalmente.
A longo prazo, quais as consequências de um quadro não tratado de doença celíaca?
Sem o diagnóstico e tratamento corretos, a doença celíaca pode causar desnutrição, osteoporose, anemia persistente, infertilidade e problemas neurológicos, como formigamentos, depressão. E, em casos mais graves, pode até aumentar o risco de linfoma intestinal, um tipo raro de câncer. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar essas complicações.